LEGISLATIVO MUNICIPAL
Lourdes Sprenger (PMDB), vereadora da capital gaúcha
Primeira vereadora eleita pela causa animal em Porto Alegre fala
de suas bandeiras como protetora da importância do trabalho voluntário e dos
projetos que podem dar sustentação aos direitos dos animais
por Sandro Carvalho
Em
Evidência - Quando começou sua carreira na política?
Lourdes
Sprenger - Oficialmente, iniciei na política em
2012 quando Porto Alegre me elegeu vereadora. Mas eu já acompanhava a política desde
a campanha pelas Diretas-Já nos tempos de estudante. Participei das
manifestações e das campanhas eleitorais a partir de 1998.
Em
Evidência - Sempre quis ser política?
Lourdes
Sprenger - Nunca tinha pensado em ter mandato
político. Apenas colaborava como militante. Sou de uma geração que foi impedida
de escolher o prefeito, governador e presidente. Por isso valorizo muito o voto
e a democracia. A disputa eleitoral é fundamental para se conhecer candidatos,
propostas e compromissos. Mas reconheço que precisamos de muito aperfeiçoamento
ainda no campo da educação política.
Lourdes
Sprenger - A causa animal é algo que emociona.
É um sentimento que mexe com as pessoas. Gosto muitíssimo de animais. Como
muitos protetores fazem, crio seis cães e três gatos em casa. Também mantenho um
cão numa clínica particular e, no momento, eu e minha família apadrinhamos um
grupo de 16 cães para doação. Mas nossa tarefa constante é facilitar as adoções
providenciando castrações, vacinas, alimentação...
Em
Evidência - Qual é a situação da causa animal hoje? Que avanços e problemas
podem ser identificados?
Lourdes
Sprenger - Estou atuando na causa animal desde
o ano 2000 e percebo que o movimento está crescendo em todos os municípios com envolvimento das comunidades. A
conscientização leva as pessoas a participarem. Esta é uma tendência mundial...
Comecei a trabalhar como protetora em Porto Alegre, trocando e-mails e reunindo
um pequeno grupo. E a partir de 2002, crescemos a ponto de instalarmos o Fórum
de Bem-Estar Animal na Câmara Municipal da Capital. A partir daí, as ações se
propagaram para outras comunidades do Estado. Acredito que a questão animal já evoluiu
bastante, mas ainda carece de políticas públicas efetivas. Na época em que
iniciamos, combatíamos o extermínio indiscriminado de animais. Hoje é
diferente. Já existe lei contra este tipo de crime.
Lourdes
Sprenger - Mais tarde, em 2008, lutamos pela
aprovação da chamada Lei das Carroças. Ficou garantida a inclusão social dos
carroceiros e carrinheiros e se estabeleceu um prazo para o fim da circulação
de carroças. Começamos, então, a acabar com os maus tratos aos cavalos, que
sofrem puxando excesso peso. Também ajudamos a criar a Coordenadoria do Bem-Estar
Animal que, mais tarde, deu origem à Secretaria dos Direitos dos Animais
(SEDA). Já obtivemos muitos avanços, mas é preciso alcançar novas conquistas
especialmente no setor público.
Em
Evidência - De que forma a senhora trabalha sua plataforma política pela causa
animal?
Lourdes
Sprenger - Primeiro gostaria de reafirmar que
estou política. Mas sou uma protetora. Considero o projeto que cria o Conselho
Municipal dos Direitos dos Animais a minha principal proposta nesta área. Está em
tramitação e, se aprovado, vai congregar entidades com a finalidade de propor e
fiscalizar políticas públicas quanto aos direitos animais. Também estou
propondo, com insistência, a implantação do cadastro informatizado de animais,
que é uma atribuição do município. Mais o programa de esterilização gratuita de
animais. Tenho outras propostas, como a proibição da fabricação e venda de
fogos de artifícios e o projeto de lei que torna obrigatório os dizeres “produto
testado em animais” nas embalagens de cosméticos e de produtos de higiene pessoal,
comercializados ou rotulados em Porto Alegre. Algumas destas propostas
funcionariam melhor com abrangência de uma lei federal, por exemplo, para todo
o estado e o país.
Em
Evidência - Como as pessoas estão se comportando neste momento em que a causa
animal está em alta?
Lourdes
Sprenger - É crescente a consciência no que se
relaciona à causa animal. Em primeiríssimo lugar, temos que olhar com carinho e
objetividade para a questão da guarda responsável. É o caminho para se evitar o
abandono. Também temos estimulado as pessoas a fiscalizar e a denunciar
maus-tratos. É a melhor colaboração que podemos prestar ao bem-estar ONGs, junto
com protetores e ativistas da causa. Este é um conjunto de forças que atuam
promovendo eventos para custear esterilizações, vacinas e alimentação para os
animais carentes. São pessoas e entidades que estão sempre fazendo muito, com
recursos limitados. Estão fortalecendo cada vez mais a causa.
Em
Evidência - Será a causa animal um fator tão importante para tantas pessoas
hoje em dia?
Lourdes
Sprenger - Eu acredito que a causa animal está
cada vez mais sensibilizando comunidades e atraindo todo o tipo de público.
Como sou protetora, percebo que o crescimento do ativismo nacional e internacional
se transforma num atrativo para os partidos. Mas, como hoje em dia, as pequenas,
médias e grandes comunidades têm seus protetores e voluntários reconhecidos por
seu trabalho, é preciso ter raízes muito firmes para ser reconhecido e
representar a causa. Não tenho dúvida de que as pessoas sabem distinguir quem
circunstancialmente, digamos, tenta fazer da causa animal um trampolim; e quem
tem historicamente um engajamento.
Em
Evidência - Quais são seus próximos passos dentro da área política e da causa
animal?
Lourdes
Sprenger - Reconheço que o campo da causa
animal é muito abrangente e que há tarefas urgentes a serem executadas no
âmbito estadual e federal. Por exemplo: precisamos modernizar e atualizar os
programas que recebem repasse de verbas públicas. Nestes programas, precisamos incluir
a esterilização. Isto quer dizer: mais controle populacional de animais de
periferia. Falo de uma atualização que passa pela aprovação do novo Estatuto
dos Animais, que está tramitando na Câmara Federal. São novas políticas de bem
estar animal que vão auxiliar nossos municípios.
Em
Evidência - E a questão das pesquisas com animais?
Lourdes
Sprenger - Quanto à pesquisa científica, temos
que tornar efetivos métodos alternativos em que não são mais necessários os
testes em animais. Isto já acontece em países mais desenvolvidos que o nosso e
que têm uma legislação específica. Também me preocupo com o tráfico de animais
silvestres. É necessário não só ampliar as ações da Polícia Federal, como
também aumentar o valor das multas.
Em
Evidência - Em um país com tantos problemas, como conscientizar a população
sobre a importância de proteger e respeitar os animais?
Lourdes
Sprenger - Há sempre um ponto em comum em que a
saúde pública e a proteção à saúde animal se cruzam. Mas isto também se resolve
com investimento e educação. E não há outro caminho. A consciência da proteção
ao meio ambiente e, consequentemente, ao animal, se produz por intermédio da
orientação, da educação, da fiscalização e da aplicação das leis existentes
tanto para proteger as pessoas como os animais.