(*) Lourdes Sprenger
Ser um amigo dos animais e da natureza é uma identificação que herdamos de São Francisco.
Um exemplo que transcendeu a fé cristã e transformou num comportamento que conduziu homem a novas
sensibilidades. Por exemplo, é talvez a partir da mais antiga imagem de um preservacionista, como a deste
santo homem, que passados mais de 700 anos, se configurou um dos mais notáveis movimentos pela
preservação animal do planeta. Se hoje reverenciamos o Dia Internacional dos Animais, a 4 de outubro,
data de nascimento de São Franciso, no século 12, é exatamente porque nele celebramos esta capacidade
de respeitar a natureza e a vida animal.
As campanhas sociais, os noticiários, os projetos de conscientização, que os incansáveis
voluntários, ativistas e protetores realizaram ao longo dos últimos anos ganharam escala mundial.
Fortalecidos pela tecnologia e uma nova capacidade de influenciar por intermédio das redes sociais,
acumulamos uma experiência de benefícios e experiências que traduzimos numa linguagem universal e
acessível: popularizamos o termo causa animal porque o traduzimos em ação social.
Aqui em Porto Alegre, a movimentação começou pelas ações como fim do extermínio
indiscriminado; pela esterilização e controle populacional; pelas correntes de organização de fóruns e
palestras. Porém, ativistas solitários, pequenos grupos de protetores e voluntários de todas as latitudes
tomaram a frente de um movimento. Em pouco mais de uma década, passamos a cumprir tarefas em escala,
atuando com intensidade no combate ao abandono, resgate de animais acidentados, banco de alimentos e
castração. Formou-se uma verdadeira rede de proteção que, juntamente com comunidades e organizações
civis, passaram a dividir tais encargos com a criação de órgãos administrativos e implementação de políticas
públicas. O Rio de Janeiro foi pioneiro, depois veio Porto Alegre e hoje são inúmeras cidades.
Num primeiro momento enfrentamos um debate público em que se buscou esclarecer que
saúde pública envolve tanto investimentos para atender pessoas quanto destinar recursos para o bem-estar
animal. Neste aspecto, precisamos considerar que 57,7% dos lares brasileiros registram a presença de
animal de estimação (dados da ABINPET, 2012), gerador de um mercado bilionário, seja pela capacidade
de proporcionar emprego e renda como alto recolhimento de impostos. Da produção industrial de rações
aos laboratórios, veterinários, o Brasil é um dos maiores consumidores mundiais e, em breve, se tornará um
dos gigantes na oferta de serviços nas áreas de estética, clínicas e hospedagem. É justo, portanto, que se
destine um percentual, ainda que ínfimo, desta arrecadação à causa animal.
Nosso trabalho hoje em dia evoluiu em outras direções, especialmente no sentido de
encaminhar e fiscalizar tarefas e a qualidade dos serviços públicos oferecido à área animal. Procuramos
educar os jovens, sugerimos ações de solidariedade, tratamos de aperfeiçoar formas de convivência,
conscientização social e motivações emocionais que envolvem nossa relação com os animais. Nessa
direção é que propomos a criação de um Conselho Municipal de Defesa Animal, para agregar a
participação social, criando um cinturão de iniciativas;a criação de Cadastro informatizado do plantel de
animais domésticos, sugerimos a implantação da Delegacia de Polícia de Defesa Animal, a cargo do
Estado, a quem estamos formulando sugestões de operacionalização; e elaboramos a proposta de restringir
a comercialização de filhotes em agropets.
Estas são algumas das alternativas que oferecemos para consolidar os avanços da causa
animal entre nossas comunidades e torná-la menos sofrida e mais gratificante, como pregava São Francisco.
(*) Vereadora do PMDB e ativista da causa animal