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Foto: Josiele Silva/CMPA |
A
Comissão de Saúde e Meio Ambiente, da Câmara Municipal de Porto Alegre,
debateu, nessa terça-feira (16) pela manhã, sobre a Síndrome de Hoarding,
especificamente sobre a acumulação de animais. A reunião foi coordenada pela
presidente da comissão, vereadora Lourdes Sprenger (PMDB), que explicou que a
escolha da pauta surgiu da rotina de convivência com essa síndrome. “Chegou até
nós com a preocupação da ONG Bicho de Rua, em 2013, quando criou um projeto
chamado Proteger, que é um projeto de uma ONG, não do poder público, e tem suas
limitações em número de atendimentos. E nós já assistimos a uma palestra sobre
esse projeto e foi o primeiro passo para se tratar de frente esta questão que
em muitas vezes é incompreendida”, ressaltou Lourdes.
Na
oportunidade, a responsável pelo Proteger, a psicanalista Maria Rosane Pereira,
que possui uma clínica de psicanálise que é parceira da ONG para
desenvolvimento do projeto, contou sobre o início do projeto. "Nós
começamos a receber as demandas uma semana depois. Somos uma clínica pequena,
três clínicos atendendo o projeto, e recebemos, nesses quatro anos, em torno de
60 pedidos de tratamento. Temos cerca de 15 pessoas em tratamento, de casos
muito variados, embora o problema seja comum”, ressalta Maria Rosane.
Já o
coordenador do Serviço Social da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande
do Sul (PUCRS), professor Francisco Kern, ressaltou que “é extremamente
importante esse debate, pensarmos na ótica da saúde pública”. Além de apontar o
seu posicionamento sobre a discussão, Kern levantou diversos questionamentos
para serem debatidos durante o encontro.
Representando
a Secretaria Municipal da Saúde, o coordenador de políticas públicas de saúde
de Porto Alegre, o médico especializado em psiquiatria Carlos Pacheco, explicou
que existem “dificuldades para fazer uma articulação de um tratamento que
retirasse progressivamente (os animais), sendo primeiro com uma abordagem com
os colegas da saúde e com os assistentes sociais”. De acordo com Pacheco, são
diversos tipos de casos e é necessário analisar e reconhecer cada um deles: um
cuidador em dificuldade (que não possuía um sofrimento psicopatológico); uma
pessoa com estrutura neurótica; o indivíduo com estrutura psicótica; o
dependente químico e até mesmo o sujeito perverso que acumula animais, visando
o maltrato e abuso. “A gente tinha que fazer uma abordagem discernindo cada uma
dessas situações”, ressalta o médico, explicando que, após esse reconhecimento,
é feito o encaminhamento para o tratamento de cada situação específica.
Pacheco
contou que também há uma dificuldade após o tratamento. Segundo ele, “a reincidência
é muito alta e, às vezes, em um período de menos de um ano, o paciente voltava
a ter o mesmo número de animais”.
Reclamações
Jerônimo Carvalho, chefe da equipe de
fiscalização ambiental da Vigilância em Saúde, contou que em 2012 havia muitas
reclamações, realizadas pelos vizinhos, sobre os acumuladores de animais e que,
para o grupo de trabalho de fiscalização, era necessário um maior
acompanhamento. “O que a gente verificou é que não havia nenhum tratamento
específico para esse tipo de coisa e não adiantava notificar ou multar essas
pessoas, pois não havia efeito prático”.
A
médica-psiquiatra Roberta Grudtner, representando o Sindicato Médico do Rio
Grande do Sul (Simers), disse que “é importante pensar o quanto essas pessoas
têm uma doença, então poder oferecer a elas um tratamento eficaz,
multidisciplinar, uma equipe de saúde mental, para poder ter o seu tratamento
integral e poder fazer com que esse fenômeno ser combatido”.
Maria
Valeska Cavalheiro, responsável pela Fundação Bichoterapia, apresentou o
trabalho do projeto e explicou sobre a importância do funcionamento da entidade.
“O objetivo principal é inserir animais, em situação de risco e abandonados, na
terapia humana”, disse.
Ela contou que a ideia surgiu de um programa americano, no qual uma jovem,
que morava sozinha, começou a perder a sua audição ao longo do tempo. Um amigo,
então, sugeriu que ela tivesse animal de estimação para não ficar sozinha. A
responsável pela fundação falou que, ao assistir o programa, se deu conta que poderia
fazer um trabalho com os cães sem raça definida. “Não é só um cão de raça, um
labrador ou border collie, que pode ser um terapeuta. Os animais têm as mesmas
características que o ser humano em questão de temperamento. Com base nisso, e
para valorizar esses animais que vivem em extremo abandono, a gente criou isso
para trabalhar só com esses tipos de animais”, contou.
A
representante da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, bióloga Soraya Ribeiro,
ressaltou que tem interesse “e sou solidária a esse problema”...
Representando
a prefeitura de Eldorado do Sul, a médica veterinária Denise Garcia afirmou que
“essa situação é de cidade grande e cidade pequena, como Eldorado do Sul, que
tem 36 mil habitantes, e já tivemos situações de acumuladores”. Denise sugeriu
que poderia ser utilizada a estratégia da saúde da família, com agentes que
visitam a casa e possam identificar o problema com antecedência. “Se temos a
estratégia de saúde da família, ele mesmo já vai fazer uma identificação
precoce com aquela pessoa que está começando a acumular os animais e realizar
uma política de continuidade entre os diversos entes da prefeitura”, explica a
médica-veterinária.
A próxima reunião da Cosmam está
marcada para a próxima terça-feira (23/8) e será um debate sobre a problemática
que envolve o Hospital Porto Alegre.
Texto: Guilherme Sampaio (reg. prof. 18405)
Edição:
Carlos Scomazzon (reg. prof. 7400)